O que Deus ajuntou … (i)

Cap. 8 — A vontade de Deus, a vossa santificação (I Ts 4:1-9)

Thomas Wilson

Entre as primeiras indicações que temos da seriedade de pecado sexual, está o aviso que Deus deu a Abimeleque, o rei de Gerar, num sonho: “Eis que morto serás por causa da mulher que tomaste; porque ela tem marido” (Gn 20:3). Aquela notícia espantou todo o palácio, pois compartilhavam do pensamento do rei de que o juízo de Deus sobre este pecado poderia destruir, não apenas o seu rei, mas também a nação toda. Parecia que Abimeleque, na linguagem de I Ts 4:6, tinha defraudado Abraão, seu hóspede. Também é notável como Deus discerniu os atos de Abimeleque ao confirmar que o rei tinha agido com integridade de coração quando confiou na palavra de Abraão de que Sara era sua irmã. Sem esta intervenção divina ele teria pecado em ignorância. Fica bem claro que o pecado de defraudar alguém em assuntos sexuais era pecado grave naquele tempo.



Infelizmente, hoje em dia, a estrutura moral da sociedade é tão baixa que o padrão dos dias de Abraão não existe. Apesar da lei de Moisés e do fortalecimento dos seus padrões nos ensinos elevados do Senhor em Mt 5:19-48, e enfatizados também pelos apóstolos, o mundo gentio não é mais um mundo onde um Abimeleque reina. Além disso, os santos de todos os tempos têm sucumbido às tentações que José enfrentou, e que humilharam Davi (Gn 39:7-12; II Sm 11:1-5). Em I Ts 4:1-8, Paulo coloca perante os gentios salvos a importância da santificação numa sociedade imoral, uma exigência que os apóstolos e anciãos na assembleia em Jerusalém já tinham explicado aos gentios salvos da idolatria (At 15:20, 29).

Ao apresentar esta verdade sobre a santificação, o apóstolo não faz menção daquelas decisões tomadas em Atos 15, que “pareceram bem ao Espírito Santo e a nós”. Ele indica aqui que o andar cristão é contrário àquele que caracterizava o mundo gentio e também o mundo em que vivemos hoje (v. 5). Ele mostra como o andar cristão na luz de Deus sendo revelado em Cristo está relacionado com:
  • O prazer de Deus — vs. 1-2;
  • A vontade de Deus — vs. 3-6;
  • O chamado de Deus — v. 7;
  • O dom de Deus — v. 8;
  • O ensino de Deus — v. 9.
À luz destes argumentos, como é vergonhoso qualquer tentativa de rebaixar o padrão divino do andar cristão!

O prazer de Deus

Desde os dias de Jó e de Abraão sabemos que Deus achava prazer naqueles que ouviram a Sua voz dizer “anda em minha presença e sê perfeito” (Gn 17:1). Eles não receberam os rogos e exortações apostólicas que os tessalonicenses receberam, e que nós recebemos quando lemos esta carta (v. 1). Sem dúvida, as duas palavras “rogamos” e “exortamos” mostram a intensidade crescente que continua no v. 2, onde achamos a palavra “mandamentos”, e no v. 6 onde achamos os verbos “dizer” (“avisar”, ARA) e “testificar”. A força destas palavras se juntam para enfatizar como agradar ao Senhor não é opcional para aqueles que seguem os passos daquele que sempre fez as coisas que agradaram ao Seu Pai (Jo 8:29). Em nosso caso, agradar ao Senhor significa evitar a vontade dos gentios, que tão frequentemente conduz à lascívia ou à conduta vergonhosa (veja I Pe 4:3).

A vontade de Deus

O mandamento de Paulo tinha sido entregue aos tessalonicenses quando ele estivera entre eles (v. 2). Não foi meramente um conselho que ele deu, mas um mandamento dado pela autoridade do Senhor Jesus Cristo, e ele esperava que fosse repassado de um santo para outro. Eles deveriam ter sabido que o Senhor iria estabelecê-los “irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os Seus santos” (3:13). Assim, como poderiam ficar surpreendidos ao saber que a vontade de Deus para eles era a sua santificação presente (v. 3)? Esta santificação foi explicada, aos leitores, pelo apóstolo em três frases:
  • “que vos abstenhais da prostituição” (v. 3);
  • “que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra” (v. 4);
  • “que ninguém oprima ou engane a seu irmão em negócio algum” (v. 6).
A primeira frase é semelhante aos termos da assembleia em Jerusalém (At 15:20, 29). A proibição da prostituição (fornicação) incluiria uma grande variedade de relacionamentos sexuais ilícitos. O contexto não exclui o adultério, o inclui, e também inclui a atividade homossexual. A segunda e terceira frases definem, respectivamente, os limites de conduta em relação a cada santo individual e o seu próprio corpo; e em relação a cada santo e seu irmão.

Um salvo deve dominar seu corpo, não somente no sentido de I Co 9:27: “subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado”. Por razões positivas, e também negativas, ele deve controlar o seu corpo especificamente em relação aos seus desejos sexuais. Positivamente, o seu corpo deve estar ligado com “santificação e honra” (v. 4). Como estes dois substantivos são qualificados por uma única preposição no grego, temos reforçada a verdade de que Deus tem prazer na santidade. Negativamente, viver uma vida dissoluta “na paixão da concupiscência” é viver como os gentios (v. 5). Percebemos quão vergonhoso é este estado pela frase do apóstolo: “que não conhecem a Deus”. Os gentios idólatras serviam a deuses que eram personificações das suas próprias ambições e desejos. Como resultado, a lascívia dos gentios era “incontrolável”, às vezes levando uma sociedade inteira aos juízos de Sodoma e Gomorra (Gn 19), e de Pompeia e Herculano nas encostas do Vesúvio. A ignorância dos gentios produzia uma vida imoral; a revelação divina exige uma vida santa!

O Deus que não tem prazer na morte dos ímpios encontra prazer no Seu povo quando eles mantém os seus corpos “em santificação e honra”.

No v. 6 outro assunto importante é tratado: “Ninguém oprima ou engane a seu irmão em negócio algum”. O texto original não diz “negócio algum”, mas como diz a ARA: “Nesta matéria, ninguém ofenda, nem defraude a seu irmão”. Paulo está tratando de um só assunto neste trecho. A tradução de J. N. Darby diz: “não prosseguindo além dos direitos e ofendendo seu irmão neste assunto”. Os assuntos do contexto são as relações sexuais e o perigo de ultrapassar os limites na conduta, resultando no pecado de violar os direitos de um irmão. Por exemplo, adultério envolveria a esposa de um irmão e assim violaria os direitos do irmão. Qualquer tipo de prática sexual ilícita está incluída na frase “nesta matéria”. Paulo está claramente advertindo que, onde não há controle próprio do corpo, os relacionamentos afetuosos entre os salvos poderiam abrir a porta para a entrada do pecado, que o Senhor mesmo vingaria (v. 6). O escritor aos hebreus advertiu seus leitores judaicos dizendo: “venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém, aos que se dão à prostituição, e aos adúlteros, Deus os julgará” (Hb 13:4). Paulo, aqui em I Ts 4:6, entrega uma advertência semelhante aos leitores gentios. A vontade de Deus para os santos, quer sejam judeus ou gentios, é a sua santificação.

O chamado de Deus

O Deus que os chamou, quer judeus ou gentios, os chamou à santidade, literalmente “em santificação”. Ninguém podia duvidar do Seu propósito. Talvez por estar escrevendo a gentios Paulo não diz: “e sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11:44), como Pedro fez quando escreveu a judeus (I Pe 1:16). A intenção de Deus não era que eles permanecessem no pecado (Rm 6:1). Ele os tinha chamado “em santificação”. Eles eram fornicadores, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, roubadores, mas agora tinham sido “lavados … santificados … justificados”, agora o “corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo” (I Co 6:9-11, 13). Deus os tinha chamado da noite tenebrosa de “dissoluções” para a luz onde um viver santo é praticado (Rm 13:12-14).

O dom de Deus

Neste ponto da sua exortação, o apóstolo apresenta uma afirmação formulada para sondar os corações: “Quem despreza isto não despreza ao homem, mas sim a Deus …” (v. 8). Aquele que rejeita este ensino tão claro, não é descrito como “um de vós, santos tessalonicenses”, e isto deixa em aberto a pergunta se esta pessoa que deliberadamente escolhe continuar em pecado realmente é nascida de Deus. João acrescentaria: “Qualquer que permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu” (I Jo 3:6). Ao desprezar este ensino, para continuar pecando, a pessoa não está rejeitando um homem qualquer, mas o Deus cujas reivindicações estão sendo desprezadas. Este Deus que está sendo desprezado é o Deus que deu (ou está dando) “Seu Espírito, o Santo” (v. 8, tradução literal). Em I Co 6:19-20, Paulo ensinou que este dom exige condições santas nas quais possa habitar, pois o corpo do salvo é o Seu santuário. Aqui, Ele é o poder para um viver santo, e Ele é também quem constantemente fortalece o salvo contra a impureza. A frase “o Seu Espírito” indica que Ele tem o mesmo caráter do Doador, que nos chama à santidade. Onde há desprezo quanto ao caráter do Doador e do Dom, surge uma dúvida sobre o relacionamento daquela pessoa com Deus.

O ensino de Deus

No v. 9 o apóstolo começa uma nova parte, com a frase apropriada: “Quanto, porém …” O novo assunto é o amor fraternal. É notável a justaposição desta parte com a parte anterior (vs. 1-8). Lembrando que no v. 6, ele tinha salientado um exemplo de comportamento contrário a amor fraternal, o apóstolo obviamente deseja que seus leitores considerem esta parte à luz da santificação. Aquele que defraudou seu irmão pela sua conduta imoral não demonstrou amor fraternal, e não amou o seu irmão, como fora ensinado pelo Senhor. Aquele que é ensinado por Deus não destrói casamentos.

Resumo

Num mundo que rapidamente está se tornando igual ao mundo dos gentios descrito em passagens como Romanos 1, é importante considerar bem a responsabilidade apostólica colocada perante os novos convertidos em Tessalônica. Em I Tessalonicenses 4 Paulo apresenta razões para apoiar o pensamento que a escolha deliberada de um estilo de vida de flagrante imoralidade, talvez ao ponto de destruir o casamento de outro, é um pecado grave que o próprio Senhor vingará. Pode ser uma indicação de que a profissão de fé desta pessoa é falsa.

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