O que Deus ajuntou … (f)

Cap. 5 — Uma só carne

Brian Currie

A sociedade moderna tem aceitado o princípio de que tudo é relativo, nada é absoluto, e com isso está vivendo uma degeneração moral incrivelmente rápida. Quando Deus e Sua Palavra são excluídos, desobedecidos e deixados de lado, então a estrutura da sociedade fica sob uma tremenda pressão, e o colapso logo segue. É com este triste pano de fundo que este artigo está sendo escrito.



Uma manchete no jornal inglês The Daily Mail de sexta-feira, 29 de Agosto de 2003, dizia o seguinte: “O Dilúvio do Divórcio”. O artigo correspondente dizia:
As estatísticas mostram que o divórcio aumentou dramaticamente no ano passado … o número de casamentos está no ponto mais baixo desde o reinado da rainha Vitória … o fim dos casamentos também provavelmente trará pobreza e doença aos adultos … Isto deixou 150.000 crianças — 25% das quais têm menos que cinco anos de idade — em lares desfeitos.
Enquanto um casamento desfeito causa tristeza e dor a todos, são as crianças inocentes as que mais sofrem. Esta situação agora é aceitável na sociedade, e com muita frequência é apoiada pelos planos do governo. No mesmo artigo havia a seguinte citação:
O sistema de impostos de renda e benefícios sociais está pesando contra os casados, e temos uma cultura que aparentemente não gosta de relacionamentos fiéis.
Como outro escreveu:
A sociedade, em todas as suas formas, depende do matrimônio. O ataque contra o casamento é realmente um ataque contra a sociedade (e também contra Deus, que fundou a sociedade sobre o matrimônio).
Precisamos responder às seguintes perguntas: “O divórcio é aceitável a Deus?”, e “É aceitável ao povo de Deus?”

As respostas não serão achadas na sociedade, nem na hierarquia religiosa e sua confusão, nem devemos confiar na sentimentalidade humana ou até mesmo na compaixão que sentimos para com aqueles envolvidos; nem podemos usar exemplos obscuros como alicerce para construir teorias que muitas vezes são sentimentais e inadmissíveis. Temos de ir para as Escrituras, que são nosso único guia. Isaías encorajou seus leitores, e assim nós também, quando disse: “À lei e ao testemunho” (Is 8:20).

Não devemos ficar surpreendidos com este ataque, porque Satanás sempre ataca o que é de Deus. Foi assim desde o princípio. No final de Gênesis 2, quatro coisas lindas foram estabelecidas por Deus.
  • A linda Criação que veio pelo poder de um Criador;
  • O homem é o cabeça desta Criação;
  • O homem está em comunhão com Deus;
  • Homem e mulher foram unidos como marido e mulher.
Satanás odeia estas quatro coisas, atacou-as, e continua a atacá-las.
  • A linda Criação foi estragada pela entrada do pecado, e continua sendo estragada e atacada pela abominável teoria de evolução;
  • A liderança masculina criacionista continua sendo atacada pelo feminismo agressivo;
  • A comunhão foi interrompida pelo pecado, e enquanto muitos verdadeiros crentes gozam de comunhão com seu Salvador e Deus, a maior parte da humanidade continua nos seus pecados e longe de Deus;
  • A pressão contra a união matrimonial está aumentando, com a crescente aceitação do divórcio.
Ao tratarmos do relacionamento de uma só carne e seu impacto no assunto de casamento e divórcio, vamos considerar o seguinte:
  • Iniciando um casamento;
  • A instituição do casamento;
  • A essência do casamento.

a. Iniciando um casamento

Depois de aceitar a Cristo como Salvador, a decisão de se casar é a mais importante que uma pessoa pode fazer. A salvação traz consequências para a vida toda e também para a eternidade, mas o casamento traz consequências para toda a nossa vida. O mundo pode aceitar “testes de casamentos” (simplesmente viver juntos), mas tais relacionamentos são realmente fornicação licenciosa.

Com respeito ao elevado ideal do matrimônio em Gênesis 2, um ideal que nunca mudou, lemos que Deus “a trouxe ao homem” (v. 22 – VB). Não podemos esperar que descrentes levem Deus em consideração neste assunto, mesmo embora deveriam neste assunto criatorial, mas para os salvos esta consideração é vital. Não podemos colocar limites em Pv 3:5: “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento”. Se houvesse mais dependência em Deus sobre este importantíssimo assunto, menos erros seriam cometidos. Se houvesse mais oração, antes do casamento, haveriam muito menos problemas depois.

Jovens salvos precisam ser avisados contra as ideias mundanas de namoro, a frequente troca de namorado(a), e encontros de uma só noite. Pela oração e pelo discernimento espiritual assim adquirido, direção é dada para reconhecer o namorado(a) espiritualmente compatível. Temos de guardar em mente as afirmações claras das Escrituras: “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? O que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (II Co 6:14-16). Também Amós 3:3: “Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?”

Às vezes corremos o risco de pensar que podemos mudar a pessoa, para que ela se torne na pessoa que queremos que seja. Também, às vezes pensamos que o salvo pode casar com alguém que é descrente e assim contribuir para a sua salvação. Será que podemos pedir a Deus que abençoe a desobediência? Será que a voz da incredulidade, que em Rm 3:8 diz: “façamos males, para que venham bens”, deve se manifestar em um salvo?

b. A instituição do casamento

Há aqueles que falam de “matrimônio cristão”. Contudo, o casamento foi instituído antes do cristianismo, do judaísmo, e até mesmo da era dos patriarcas. O casamento teve início na Criação. Assim não encontramos o padrão para o casamento na lei nem no comportamento dos patriarcas. O Senhor Jesus mostrou que, como sempre, os primeiros pensamentos de Deus são também os Seus pensamentos finais, quando, falando sobre o casamento, Ele disse: “Ao princípio não foi assim” (Mt 19:8).

Assim, voltamos para Gn 2:21-25: “Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; e da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam”.

A sugestão de que isto se aplica somente a Adão e Eva, e não a nós hoje em dia, é totalmente inválido. Lemos no v. 24: “Portanto deixará o homem seu pai e mãe, e apegar-se-á à sua mulher e serão ambos uma só carne”. É importante notar a expressão “deixará … seu pai e mãe”. Podemos perguntar, será que Adão deixou seu pai e mãe? Não! Quando Deus introduziu o matrimônio em Gênesis 2, Ele estava colocando a base e o padrão, o Seu padrão, para todos os casamentos, para todos os tempos. Concordamos de todo coração com Paul Wilson, que disse: “Se queremos ter pensamentos corretos sobre casamento e divórcio, temos de voltar para o princípio — para o que Deus estabeleceu. Não vamos encontrá-los observando a opinião ou a prática do mundo”.

O ensino de que o casamento é cristão implica sutilmente que Deus tem pouco interesse nos casamentos dos descrentes. Contudo, em I Co 6:9-11 lemos: “Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. E é o que alguns tem sido …” Muito obviamente, o apóstolo aqui está se referindo às pessoas descrentes quando ele indica estas características imorais que marcaram os coríntios antes da sua conversão. Porém, o fato dele mencionar, por inspiração, um pecado como adultério prova que Deus considera aquele pecado na vida dos descrentes. Se Ele reconhece adultério, Ele tem de reconhecer também a união do casamento que foi violado pelo pecado do adultério. Em Hb 13:4 lemos também: “Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém, aos que se dão à prostituição, e os adúlteros, Deus os julgará”. Este versículo, novamente, se refere aos “adúlteros” e destaca que Deus julgará tais pessoas. Como poderia Deus justamente julgar pessoas por algo que Ele não reconhece?

Talvez seja necessário definir “adultério”. Esta palavra é usada pela primeira vez em Êx 20:14, e ocorre trinta e uma vezes no VT. Geralmente é traduzida “adultério” (dezessete vezes), adúltero (oito vezes), adúltera (quatro vezes), mas há uma referência onde seu significado é explicado: “E julgar-te-ei como mulheres que quebram o vínculo matrimonial” (Ez 16:38

O autor aqui se refere à Bíblia Inglesa na versão King James, onde Ez 16:38 diz “And I will judge thee, as women that break wedlock”, que é traduzido literalmente no texto acima. (N. T.)

). Assim, adultério é definido por Deus como “quebrar o vínculo matrimonial”. Isto não significa que a união matrimonial foi destruída, mas que a pessoa foi infiel àquela união e teve um relacionamento com outra pessoa.

Precisamos enfatizar que Deus reconhece todos os matrimônios, e espera, sim, exige, o padrão estabelecido no Éden, isto é, de um homem e uma mulher. Isto desqualifica a prática da poligamia, a homossexualidade, a bestialidade e qualquer tipo de perversão. Deus é imutável, como é enfatizado nas seguintes citações bíblicas: “Deus não é homem para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não faria? Ou falaria, e não o confirmaria?” (Nm 23:19); “Porque eu, o Senhor, não mudo” (Ml 3:6); “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação” (Tg 1:17); “O conselho do Senhor permanece para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração”(Sl 33:11); “Para sempre, ó Senhor, a tua palavra permanece no céu” (Sl 119:89). Se nos atrevemos a mudar um decreto de Deus, então por que não mudar outros também para satisfazer os nossos desejos ou os da sociedade em que vivemos?

c. A essência do casamento

Talvez a pergunta mais importante a ser respondida e que salienta o ponto crucial deste assunto, é: “Quando, realmente, ocorre o casamento?

Uma só carne

Muitos expositores sugerem que o casamento ocorre quando as relações sexuais se iniciam e a união é consumada. Este pensamento é baseado na sua compreensão da expressão “uma só carne”.

Num folheto (onde, na opinião do presente autor, este assunto é argumentado de uma maneira muito fraca) O. L. McLeod, explicando a frase “ambos serão uma só carne”, afirma o seguinte:
Agora, considere como em I Co 6:16 esta frase é usada em relação ao homem tendo relações com uma meretriz. Se eu entendo as Escrituras corretamente, isso indica que, perante Deus, o homem, tendo relações com a meretriz, é uma só carne com ela, praticamente como se fosse casado com ela. Todos nós sabemos que não é a cerimônia legal que une o homem e a mulher, mas a união sexual.
Em nossa opinião, afirmamos que por causa desta má compreensão, Deus está sendo difamado, Sua verdade mal representada e Seu povo mal informado.

Isso mostra uma falta de cuidado na leitura e na explicação, porque não é assim que está escrito. Para entender esta passagem, é essencial que façamos uma diferença entre “um corpo” e “uma só carne”.

Em outra publicação, onde o escritor trata a união matrimonial de uma maneira muito leviana (ao ponto de considerar que crueldade, embriaguez, encarceramento por toda a vida, ou fraqueza mental, são razões para o divórcio), ele afirma: “No casamento o marido e a mulher consumam o casamento e assim se tornam um, e esta uma só carne é algo que é de Deus”. Esta afirmação se contradiz a si mesmo, pois reconhece que o casal era marido e mulher antes da consumação, no entanto foi esta mesma consumação que os fez um!

Outro ainda afirma que
[…] em toda a Escritura os casados são vistos como uma só carne, o que claramente se refere ao relacionamento físico, portanto a ideia de um casamento não consumado é estranho às suas páginas.
Mesmo uma leitura superficial de Gênesis 2 mostrará que estas afirmações não estão corretas. É em Gênesis 2 que Eva é formada e trazida a Adão, e antes de qualquer consumação ela é chamada de sua mulher (v. 25). Não há menção de consumação deste casamento até Gn 4:1, onde lemos: “E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu, e deu à luz Caim, e disse: Alcancei do Senhor um homem”. Ela era, obviamente, sua mulher antes que ele “a conheceu”. Se alguém pensa que isto é argumentar tendo como base o estado da inocência, que não tem relação nenhuma com a sociedade moderna, note a ordem nas seguintes Escrituras:

Gn 24:67: “E Isaque trouxe-a para a tenda de sua mãe Sara, e tomou a Rebeca, e foi-se por mulher, e amou-a. Assim Isaque foi consolado depois da morte de sua mãe”. Rt 4:13: “Assim tomou Boaz a Rute, e ela lhe foi por mulher; e ele a possuiu, e o Senhor lhe fez conceber, e deu à luz um filho”.

Estas citações deixam claro que o casamento ocorreu antes da consumação.

I Coríntios 6

Enfatizamos novamente que a correta compreensão da frase “uma só carne” é a chave para entender estas passagens. A Escritura que esclarece isto é I Co 6:15-17.

Este capítulo tem duas divisões:
  • vs. 1-11, onde o assunto é a divisão, enfatizando o meu relacionamento com meu irmão;
  • vs. 12-20, onde o assunto é fornicação, enfatizando minha responsabilidade com meu corpo.
Em cada uma das divisões há muitas perguntas, mas em cada uma encontramos a frase “Não sabeis” três vezes.

Na primeira parte, estas perguntas se referem ao futuro, indicado pela palavra “hão” ou “havemos”:
  • “Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo?” (v. 2);
  • “Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos?” (v. 3);
  • “Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus?” (v. 9).
Isto é, a minha conduta deve combinar com a minha posição futura.

Na segunda parte, nos vs. 12-20, as perguntas se referem ao presente, indicado pelas palavras “são”, “faz-se”, e “é”:
  • “Não sabeis vós que vossos corpos são membros de Cristo?” (v. 15);
  • “Ou não sabeis que o que se ajunta com meretriz, faz-se um corpo com ela?” (v. 16);
  • “Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo?” (v. 19).
Isto é, a minha conduta deve combinar com o meu privilégio presente.

No v. 15 chegamos ao primeiro “não sabeis” desta segunda parte, e para enfatizar a natureza detestável da permissividade sexual, Paulo pergunta: “Tomarei, pois, os membros de Cristo, e fá-los-ei membros de uma meretriz?” Ele considera esta pergunta tão repugnante que ele rapidamente acrescenta, “Não, por certo”.

O segundo “não sabeis” está no v. 16, onde ele pergunta, aparentemente com alguma incredulidade: “Não sabeis que o que se ajunta com meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne”. Por que ele usa estas duas expressões diferentes “um corpo” e “uma carne”? Ele indica que a união com a meretriz é somente uma união física, e para aqueles poucos momentos dois corpos foram fisicamente unidos e, portanto, se tornaram “um corpo”. Isso está em contraste com o elevado e sublime ideal de “uma carne” que ocorre somente no casamento. A citação de Gn 2:24 é para condenar, e não desculpar, a prostituição.

Ele não pode citar Gênesis 2 sobre “um corpo”, pois nada é escrito ali sobre “um corpo”. Nem pode dizer que a união com a meretriz é “uma carne”, pois esta expressão apenas é usada para descrever o vínculo permanente do casamento. Assim ele faz diferença entre os dois. Devemos notar que a palavra “porque”, no v. 16, é parte da citação de Gênesis 2, e não está explicando “um corpo”. É o contraste entre as duas expressões que está sendo enfatizada.

Qual é, então, a diferença entre as duas expressões? “Um corpo” é apenas uma rápida união física, que ocorre durante o ato sexual. Em contraste, “uma carne” é a união de um homem e uma mulher em casamento, união esta que é formada por Deus e desfeita somente pela morte ou pela volta do Senhor para buscar o Seu povo. Assim lemos: “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mt 19:6). Se esta união é a consumação, em que sentido seria Deus quem os ajuntou?

Veja também Ef 5:31-32: “Por isso deixará o homem seu pai e mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da sua igreja”. Não há nenhum mistério sobre o assunto da união sexual! O relacionamento de “uma carne” é o resultado de um homem tomando, e se unindo a uma mulher e esta união sendo ratificada no Céu. A linguagem de Gn 5:2 é instrutiva: “Homem e mulher os criou; e os abençoou e chamou seu nome Adão, no dia em que foram criados”. Não diz que Ele os chamou Adão e Eva, mas desde a Criação eles foram “uma carne” e assim o seu nome era “Adão”.

As duas expressões: “Deus ajuntou” e “grande é este mistério”, precisam ser compreendidas com clareza no contexto do casamento. Quando duas pessoas se prometem uma a outra, Deus misteriosamente ratifica esta promessa no Céu e os ajunta para que se tornem uma só carne. Isso significa que são um em perspectiva e ambição, e não mais duas pessoas separadas, mas uma só. A linguagem do Senhor Jesus Cristo, em Mt 19:5-6 enfatizou Gn 2:24: “… Porque, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne, Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem”. A frase “Assim não são mais dois, mas uma só carne” é pertinente. A linguagem de Ef 5:28-29 é muito terna: “… assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne, antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja”. Vejamos também como a frase “quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne”, é importante. Estas frases indicam que a união é tão íntima que estes dois indivíduos foram feitos uma pessoa. Lembramos também que na Criação eram um, pois Adão afirmou: “Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne …” (Gn 2:23). É por causa desta união que a intimidade sexual é permitida. Tal intimidade fora do matrimônio é pecado. A associação de marido e mulher é tão íntima que Moisés escreveu: “A nudez da mulher de teu irmão não descobrirás; é a nudez do teu irmão” (Lv 18:16), e também em Lv. 20:21: “E quando um homem tomar a mulher do seu irmão, imundícia é; a nudez de seu irmão descobriu …” Assim, a violação da mulher é comparada a uma união homossexual e incestuosa.

Esta união no relacionamento de “uma carne” acontece em cada casamento, seja num cartório, num salão de reuniões, num templo, numa capela, ao ar livre, ou onde quer que a cultura das pessoas permita que um casamento seja realizado. Não faz diferença se o casal é salvo ou não. Deus reconhece todos os casamentos porque, como já vimos, esta ordenança de matrimônio é criacionista . Agora, como resultado desta união de “uma carne”, o relacionamento mais intimo é permitido. Sem isto é o relacionamento de “um corpo” é pecado — é o mesmo que ser unido fisicamente com uma meretriz.

Este relacionamento somente pode ser desfeito pela morte, quer sejam salvos ou não. Deve estar claro a todos que seguiram este raciocínio que, como um ato físico não constitui um casamento, um ato físico também não pode desfazê-lo.

Podemos definir o momento quando ocorre o casamento da seguinte maneira: “Um marido e uma esposa se tornam um perante Deus quando o casamento é realizado de acordo com as leis do país; é um laço que não tem igual no mundo”. Esta diferença entre “um corpo” e “uma carne” é mencionada por muitos outros. Vamos incluir algumas citações:
Sendo que I Co 6:16 descreve a união com a meretriz como “um corpo” e não “uma carne”, a união matrimonial tem de ser algo mais que somente físico, embora isto esteja incluído.
Alguns erroneamente dizem que adultério desfaz o casamento porque um novo casamento se fez. Mas, biblicamente, isto não é verdade. Também, alguns dizem que o casamento já foi desfeito perante Deus, no caso do adultério. Mas este tipo de linguagem (e o raciocínio por traz dele) não tem apoio bíblico. A ideia de que o casamento começa na lua de mel, quando começam as relações sexuais, e não quando os votos são feitos, é totalmente estranha às Escrituras … Relações sexuais, em si, não constituem, e não desfazem um casamento.
No casamento eles não são mais dois, mas somente um. Limitar a frase “os dois serão uma só carne” ao relacionamento sexual é uma má compreensão da frase … Há uma união para toda a vida terrestre; o marido e a esposa compartilham uma só vida.
Gênesis 2 não está dizendo que além de serem dois indivíduos, agora são também um só. Está dizendo que no nível mais fundamental, depois do casamento, eles não são mais dois.
Embora a união sexual certamente faça parte do casamento, por si só não faz o casamento. O homem e a mulher têm o direito de se unirem sexualmente por terem já se unido como marido e mulher.
Por favor, vamos observar que o homem e a mulher se tornam indissoluvelmente uma carne, não no momento da consumação, mas no momento em que o homem toma a sua esposa em casamento … Adão e a mulher eram, sem dúvida, uma carne no jardim do Éden antes de qualquer filho nascer. Quando um homem toma uma esposa Deus os une (Mt 19), e isto é restrito ao laço matrimonial. É isto que sanciona a associação mais íntima de marido e esposa e a limita a este relacionamento singular de “uma só carne”.
É importante saber por certo quando um casamento ocorre aos olhos de Deus. Com Adão e Eva foi quando Deus apresentou Eva a Adão, e Adão disse: Agora esta é osso dos meus ossos e carne da minha carne. Então Adão foi chamado “seu marido” (Gn 3:6), e Eva “sua mulher” (Gn 3:17, 20). Isto foi apesar do fato do casamento não ser consumado até o cap. 4 … Portanto, o argumento que o casamento somente é verdadeiro aos olhos de Deus quando é consumado é totalmente inválido.
Isso significa que porque um homem e uma mulher são “uma só carne”, a intimidade sexual é permitida. Esta intimidade fora do casamento é “um corpo”, e é pecado. De fato, é a mesma coisa que ter relações com uma prostituta (I Co 6:16).

A expressão original em Mt 19:5, conforme a margem da Bíblia Newberry, tem a preposição grega eis, permitindo que a frase seja lida: “tornando-se os dois em uma só carne”. Alguns têm usado esta referência marginal para provar que o relacionamento de “uma só carne” acontece algum tempo depois da cerimônia do casamento, no momento da consumação. Contudo, depois de tudo que já consideramos, chegar a esta conclusão baseado numa referência marginal é um alicerce muito fraco!

A resposta a esta aparente confusão é que as palavras em Mt 19:5 são uma tradução de Gn 2:24, onde encontramos a palavra hebraica que é traduzida pela preposição grega “eis”. Se pudermos achar outro versículo do VT, citado no NT, onde esta mesma palavra aparece, seria muito útil para compreender melhor o seu significado. Felizmente, há outro versículo semelhante em Is 8:14: “Então ele vos será por santuário.” Claramente, isto se refere ao Senhor Jesus Cristo.

Se nós interpretamos isto da mesma maneira que alguns querem fazer com a expressão semelhante em Mt 19:5, então teremos que aceitar que houve um tempo depois da Sua encarnação quando Ele se tornou um santuário. Ninguém que é espiritual aceitaria este pensamento blasfemo. Cristo não se tornou o santuário de Deus, Ele sempre foi. Assim, vemos que esta expressão não olha para a frente, mas para trás, para o momento do Seu nascimento quando Ele, como Homem, foi o santuário de Deus. Isto torna a expressão em Mt 19:5 bem clara: “e serão dois numa só carne” olha para trás, para os votos matrimoniais feitos na cerimônia de casamento, e não para a frente, para a consumação.

Será que a infidelidade desfaz este vínculo?

Devido ao fato que alguns procuram tolerar e aceitar o divórcio, eles ensinam que é a união física que cria o casamento, e assim uma nova união física desfaz esta união. Sua linha de pensamento é a seguinte:
  • O ato sexual = uma só carne;
  • Casamento = uma só carne;
  • Assim, o ato sexual = casamento.
Se isso for verdade então não existe o pecado de fornicação que, no contexto de homem e mulher, é a união sexual entre duas pessoas solteiras. Um casal que age desta maneira acabou de se casar! Contudo, note o que diz I Co 7:2: “Mas, por causa da prostituição [ou fornicação: pornéia, no grego], cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha seu próprio marido”. Aqui o casamento e a fornicação são vistos como opostos — de fato, o casamento é visto como um preventivo para a fornicação. Este é o motivo mais baixo e fundamental para se casar; não é uma razão nobre e elevada para se casar, e pode causar dificuldades mais tarde. Por exemplo, pode surgir uma condição física, médica ou mental que impede as relações íntimas do casal. Isso não deve afetar o amor e a relação carinhosa entre marido e esposa. De fato, a enfermidade deve os unir mais, enquanto um ajuda o outro no seu problema, de maneira compreensiva. Seria muito desumano insistir nos direitos conjugais em tais circunstâncias. Lembramos do conselho de Pedro aos maridos: “Igualmente, vós maridos, coabitai com elas com entendimento, dando honra a mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus co-herdeiros, da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações” (I Pe 3:7). Veja também o cap. 6 deste livro, onde I Coríntios 7 é exposto detalhadamente .

O erro de pensar que é o ato físico que constitui o casamento também é demonstrado em Gn 34:1-4: “E saiu Diná, filha de Lia, que esta dera a Jacó, para ver as filhas da terra. E Siquém, filho de Hamor, heveu, príncipe daquela terra, viu-a, e tomou-a, e deitou-se com ela, e humilhou-a. E apegou-se a sua alma com Diná, filha de Jacó, e amou a moça e falou afetuosamente à moça. Falou também Siquém a Hamor, seu pai, dizendo: Toma-me esta moça por mulher”. Claramente, o ato de deitar-se com ela não tornou Diná a sua esposa.

Também, veja o caso de Judá com sua nora Tamar, em Gn 38:13-26. O ato de Judá deitar com Tamar não a tornou sua esposa.

Esta verdade também é ensinada em Êx 22:16-17: “Se alguém enganar alguma virgem, que não for desposada, e se deitar com ela, certamente a dotará e tomará por sua mulher. Se seu pai inteiramente recusar dar-lha, pagará ele em dinheiro conforme ao dote das virgens”. Obviamente eles não eram casados, senão o seu pai não podia recusar dar-lha. Ele tinha que pagar a dote (cinquenta siclos de prata, Dt 22:29) que o pai dela normalmente receberia quando ela se casasse.

Estes três exemplos enfatizam a diferença entre “um corpo”, a união sexual, e “uma carne”, a união matrimonial.

O ensino de que a consumação é necessária para que haja um casamento significa que um eunuco nunca poderia se casar. Já conhecemos o valor da “lei da primeira menção” na interpretação bíblica. A primeira menção de um eunuco é Gn 37:36: “E os midianitas venderam-no no Egito a Potifar, oficial de Faraó, capitão da guarda”. A palavra “oficial” é a mesma palavra “eunuco”. Porém, lemos no cap. 39:7-9: “E aconteceu depois destas coisas que a mulher do seu senhor pôs os olhos em José, e disse: Deita-te comigo …” Três vezes nestes versículos ela é chamada de sua mulher — a esposa de um eunuco!

É dito, também, que a prova de qualquer ensino, se é correto ou espiritual, é ver como ele afeta o Senhor Jesus. O ensino que um casamento não é realmente um casamento até que seja consumado significa que o nosso bendito Senhor e Salvador nasceu fora do casamento. Isto logo é ofensivo e repugnante a qualquer mente espiritual. Mt 1:24-25 diz: “E José, despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu a sua mulher; e não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus”.

Um espírito

Para completar, devemos notar também a terceira união mencionada em I Co 6:17, “um espírito”. Esta é a união indestrutível entre o Senhor e o Seu povo. Visto que espíritos não morrem, esta união não pode ser desfeita. Este versículo começa com “Mas” que serve para enfatizar nossa segurança eterna. Se a união entre marido e esposa fosse espiritual, então até mesmo a morte não a poderia desfazer. Contudo, porque é “uma só carne”, somente a morte, ou a Sua vinda, pode desfazê-la, mas nós, como santos, estamos unidos eternamente ao Senhor na união de “um espírito”.

Existe a permissão para se casar de novo?

As epístolas do NT nos guiam em relação ao rompimento do laço matrimonial, e vemos esta orientação, claramente, em Rm 7:2-3: “Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do marido. De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for de outro marido; mas, morto o marido, livre está da lei, e assim não será adúltera, se for de outro marido”. Note também I Co 7:39: “A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive, mas, se falecer o seu marido fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor”.

Alguns santos amados e piedosos conheceram a terrível experiência de verem seus cônjuges os abandonarem, ou trair-lhes, ou até mesmo obter um divórcio sem o seu consentimento. Estes devem ser tratados com o máximo amor e compaixão, enquanto se adaptam a viver o resto de suas vidas sozinhos. As Escrituras não apoiam, em nenhuma parte, qualquer possibilidade de um novo casamento enquanto o primeiro cônjuge ainda vive.

Alguns dizem que a “parte inocente” está livre para se casar novamente, mas à luz das seguintes Escrituras em Marcos e Lucas, como pode ser assim? Sendo que o Evangelho de Marcos foi escrito para a mente romana, a possibilidade de uma mulher deixar o seu marido é apresentada. Este não era o caso na lei judaica. Também, na seguinte exposição, supõem-se que o cônjuge inocente deixa o culpado.

Marcos 10:11-12: “E Ele lhes disse: Qualquer que deixar a sua mulher [um homem inocente deixa sua mulher culpada] e casar com outra, adultera contra ela [a parte inocente cometeu adultério contra a parte culpada]. E, se a mulher deixar a seu marido [a mulher inocente deixa seu marido culpado] e casar com outro, adultera” [a parte inocente cometeu adultério].

Lucas 16:18: “Qualquer que deixa sua mulher [o marido inocente deixa sua mulher culpada], e casa com outra, adultera [ao casar de novo a parte inocente comete adultério]; e qualquer que casa com a repudiada pelo marido, adultera também” [quem se casa com uma mulher divorciada comete adultério].

Não é previsto um novo casamento para a “parte culpada” ou a “parte inocente”. O casamento da “parte inocente” é adultério porque ele, ou ela, ainda está casado com o cônjuge original; e se a “parte culpada” se casar de novo, também é adultério porque ela, ou ele, ainda é o cônjuge dele, ou dela. Para nós não existe exceção. Estas Escrituras, e a assim chamada “clausula de exceção” em Mateus 5 e 19, são consideradas detalhadamente no capítulo 3 deste livro.

O ensino de que a parte inocente está livre para se casar novamente está baseado na premissa falsa de que o adultério desfaz o laço matrimonial — que nunca é ensinado nas Escrituras. Se fosse assim, e a parte inocente perdoasse a parte culpada, então teriam de se casar novamente! Citamos Strauss, que fez uma afirmação muito clara sobre isto:
Eu nunca li um versículo na Bíblia onde Deus aprovasse o divórcio. Pelo contrário, a ideia do divórcio é inteiramente contrária ao plano de casamento como foi instituído por Deus … Cuidado com os ensinadores e ensinos, sejam da igreja organizada, ou fora dela, que falam sobre “razões bíblicas para o divórcio.”
Citamos também Laney, que disse:
O casamento é um relacionamento que liga o casal até a morte. Isso é implícito no conceito de se apegar — sendo “colados” ou ligados num relacionamento de uma só carne. O Senhor Jesus e Paulo ensinaram, explicitamente, que o relacionamento matrimonial somente é desfeito pela morte … Digo, outra vez, não há base legítima e bíblica para o divórcio … Se ensinos exatos e precisos sobre divórcio e novo casamento fossem ensinados nas nossas igrejas, haveria menos divórcios entre os salvos.
Rogers também diz: “O Senhor, em nenhum lugar, dá consentimento para o divórcio por causa de adultério …”.

A legislação atual

Quando consideramos o estado atual da legislação sobre o divórcio, talvez seja necessário um comentário. Digamos que haja um casal em comunhão numa igreja local, e seu casamento entra em dificuldades e uma das partes procura o divórcio. É possível obter-se o divórcio pela insistência de uma só parte. A outra parte talvez não queira, ou nem considere o divórcio como opção. A questão a ser encarada é: “Qual é a situação deste casal em relação à comunhão da igreja?” Se um deles foi infiel sexualmente, então a disciplina tem de ser administrada e a pessoa culpada colocada fora de comunhão. Entretanto, o problema a ser tratado aqui é em relação a um novo casamento. Nenhum dos dois pode casar-se novamente e ainda permanecer em comunhão, ou ser recebido de volta à comunhão. A união de “uma só carne” somente pode ser desfeita pela morte ou pela vinda do Senhor.

Lavados?

Muitos enfatizam I Co 6:9-11: “Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos [pornéia], nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. E é o que alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus”, e ensinam que os cristãos em Corinto eram caracterizados pelos pecados mencionados acima, mas pelo poder do Evangelho foram salvos, o seu passado de culpa foi apagado, e agora estavam em comunhão na igreja local. Embora isto seja verdade, de um modo geral, um esclarecimento é necessário.

Em primeiro lugar, devemos observar o que Paulo escreveu: “E é o que alguns têm sido”. Ele não escreveu: “E é o que alguns são”. Isto é, aqueles que tinham sido fornicadores não mais praticavam aquele pecado; aqueles que tinham sido adúlteros não mais praticavam aquele pecado, aqueles que tinham sido efeminados não mais praticavam aquele pecado, etc. O ensino é claro; aqueles que estavam em comunhão na igreja não viviam mais como viviam antes. Houve uma mudança nas suas vidas para que se conformassem com a mensagem que professavam ter recebido. Como se efetuou esta mudança?

A próxima frase diz: “mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados …” O primeiro verbo (“lavados”) está na voz média (no grego), enquanto que os próximos dois (“santificados” e “justificados”) estão na voz passiva. A voz média significa que o sujeito executou a ação sobre si mesmo (ação reflexiva), ou para seu próprio benefício. Contudo, a voz passiva significa que o sujeito recebe a ação. Assim “vós vos lavastes” (ARA, apoloúõ) significa que se lavaram a si mesmos. Por causa disto muitos pensam que é uma referência ao seu batismo. Seja como for, o ensino é que eles limparam as suas vidas de tal forma que os pecados anteriores não eram mais vistos — eles se lavaram a si mesmos destes pecados. O tempo aoristo do verbo (no grego) usado aqui mostra que a lavagem foi total.

Alguns concluíram que esta é uma referência à purificação pelo sangue de Cristo quando o pecador recebe a salvação. Esta palavra “lavados” ocorre apenas uma outra vez no NT, em At 22:16: “E agora por que te deténs? Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor”. Não há dúvida alguma, Saulo foi salvo na estrada para Damasco. Foi naquela ocasião que ele reconheceu que ele estava errado e que Cristo estava certo, e reconheceu Cristo como Senhor. (Rm 10:9 expressa bem a sua experiência pessoal: “Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”.) Ainda caído na poeira da estrada de Damasco, ele foi comissionado pelo Cristo exaltado, At 26:16-18: “Mas levanta-te e põe-te sobre teus pés, porque ti apareci por isto, para te pôr por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda; Livrando-te deste povo, e dos gentios, a quem agora te envio, para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão de pecados, e herança entre os que são santificados pela fé em mim”. O Senhor nunca comissionou um pecador ao Seu serviço, portanto fica claro que Saulo já era salvo neste ponto. Assim, depois da sua salvação, ele foi ordenado: “Levanta-te e batiza-te, e lava os teus pecados …” Esta seria uma proclamação pública de que ele tinha abandonado a sua antiga vida, tinha morrido com Cristo, tinha mudado e estava andando em novidade de vida (Romanos 6). Assim, a lavagem vem depois da salvação — é algo pela qual a pessoa é responsável, indicando uma mudança de vida, que acompanha uma verdadeira conversão a Deus. Esta mudança é por causa da apreciação que o salvo tem de tudo que Deus fez por ele, e está incluído nas palavras “santificados” e “justificados”.

Portanto, o significado desta palavra “lavado” é a lavagem de separação, e não a lavagem de salvação.

As afirmações estão na ordem inversa à experiência cristã. Nossa experiência de salvação começou com a justificação, mas a ordem aqui enfatiza que todos aqueles em comunhão na igreja tinham se livrado dos grilhões e manchas do pecado das suas vidas anteriores. Obviamente, ninguém pode se santificar ou justificar, no sentido de I Co 6:11. Estas coisas pertencem somente a Deus, mas é a responsabilidade de todo aquele que profere o nome de Cristo apartar- se da iniquidade (II Tm 2:19).

A lista que temos nos vs. 9-10 não pode ser classificada em termos de gravidade, permitindo a recepção do bêbado, mas recusando aquele que continua a ser devasso. O sentido dos versículos ensina que a pessoa a ser recebida na comunhão precisa ter-se lavado destes pecados.

Mais especificamente, no contexto desta publicação, precisamos mencionar que a pessoa solteira que vivia na devassidão sexual antes de ser salva, e assim era fornicador, cessou desta prática. Uma pessoa casada que, por exemplo, tinha relacionamentos extra-maritais, e portanto era adúltera, deixou aquela vida. Qualquer relacionamento sexual que uma pessoa casada tem com alguém que não é seu cônjuge, enquanto o cônjuge vive, é considerado adultério. Isto significa que a pessoa que continua com um relacionamento como esse não pode ser recebida na comunhão da igreja. Essa pessoa precisa abandonar este tipo de vida. Seria totalmente ilógico se pessoas vivendo em pecado fossem recebidas, e ao mesmo tempo alguém em comunhão que cometesse um pecado de adultério semelhante fosse cortado da comunhão.

Estas afirmações não impedem um novo casamento se o primeiro cônjuge já morreu.

Resumo

O resultado horrível do divórcio e novo casamento sendo aceito numa igreja local pode ser resumido da seguinte maneira:
  • Rouba Deus da Sua pureza;
  • Rouba Cristo da Sua glória;
  • Rouba o Espírito Santo da Sua infalibilidade;
  • Rouba a Palavra da sua autoridade;
  • Rouba a igreja local da sua santidade;
  • Rouba os santos do seu testemunho;
  • Rouba a noiva da sua segurança.

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