O que Deus ajuntou … (g)

Cap. 6 — Uma exposição sobre o matrimônio em I Coríntios 7

James R Baker

A igreja em Corinto tinha escrito uma carta ao apóstolo Paulo, composta de uma série de cinco perguntas. As primeiras duas são sobre questões ligadas ao matrimônio, e este cap. 7 é dedicado às suas respostas. Encontramos as outras perguntas em 8:1; 12:1 e 16:1. Elas se referem a vários assuntos, e o apóstolo as responde detalhadamente.



Pergunta 1

“Ora, quanto às coisas que me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher” (7:1). A resposta de Paulo é dada nos vs. 1-24.

Introdução (vs. 1-2)

A primeira pergunta é sobre a prudência e a necessidade, ou não, do casamento. A expressão “tocasse” refere-se ao casamento. Com efeito, eles estavam sugerindo que seria mais fácil servir a Deus se fossem solteiros, portanto, seria melhor não casar. Alguns pensam que o assunto deste capítulo todo é sobre “casar ou não casar”. Bruce interpreta os vs. 1 e 2 da seguinte maneira: “Alguns de vocês dizem que seria uma coisa boa para o homem não ter nada a ver com uma mulher. É verdade, mas mesmo se for somente por causa das uniões ilícitas que aconteceriam se as relações entre os sexos fossem deixadas desreguladas, cada homem tenha a sua própria mulher e cada mulher seu próprio marido”. Esta versão, embora um tanto livre, certamente expressa bem o sentido da primeira pergunta e sua resposta. O domínio próprio é enfatizado, e é afirmado que embora o celibato possa ser a vontade de Deus para alguns, não é a Sua vontade para todos. No v. 2, “prostituição” (pornéia) está no plural (no grego), indicando as várias formas de impureza que podem tentar aqueles que não são casados. O casamento foi ordenado e iniciado para o homem, por Deus, e “venerado seja entre todos” (Hb 13:4). A resposta à sugestão deles agora é ampliada, enquanto três assuntos são tratados. Vamos considerá-los separadamente.

A questão da continência (vs. 3-9)

Ou, deve existir o celibato, ou mesmo o domínio próprio, no casamento? Esta parte começa nos vs. 3 e 4 com o assunto da responsabilidade conjugal mútua entre um homem e sua esposa. Abrange o que deve ser a atitude normal sobre as relações físicas íntimas do casal nesta união. Aqui não há nenhum ênfase sobre a autoridade do homem ou o controle sobre sua mulher. Cada um é visto como tendo um dever igual para com o outro, e tendo um direito que lhe é devido do outro. Um não deve defraudar o outro em tais coisas. Nos vs. 5 e 6, o assunto paralelo das relações interrompidas com consentimento mútuo é tratado, porque sempre temos que lembrar que o relacionamento matrimonial dos salvos é também um relacionamento espiritual. Assim, se a necessidade para oração e jejum surgir, então, depois de conversarem, um acordo pode ser feito entre o casal. Tal acordo deve incluir um tempo especifico de abstinência das intimidades físicas normais, depois do qual os dois se ajuntarão novamente (v. 5). Tais fatos, sendo bem entendidos, evitam que o acordo seja uma ferramenta nas mãos de Satanás. Devemos notar que as palavras “Digo, porém, isto como que por permissão e não por mandamento” (v. 6), não dão motivo para pensarmos que Paulo não estava inspirado quando escreveu os versículos anteriores. O fato de estarem na epístola é prova inegável da sua inspiração.

Os vs. 7-9 terminam esta parte com a importância do entendimento geral e reconhecimento por todos de que cada caso, em tais assuntos, é único e individual. O apóstolo tinha certeza quanto à sua posição pessoal. Ele estava persuadido disto, e ele desejava que todos pudessem servir ao Senhor da mesma forma, mas suas palavras “porque queria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus seu próprio dom, um de uma maneira e outro de outra”, deixam bem claro que ele reconhecia que os que já eram casados estavam na sua posição e chamada pelo dom pessoal que receberam de Deus. Seu conselho aos solteiros e viúvos, “que lhes é bom se ficarem como eu, mas se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se” (vs. 8-9), é para os que estavam numa posição igual a dele. Ele sabia que alguns deles podiam viver a vida de abstinência que ele vivia, mas nem todos. Alguns poderiam ser apanhados pela tentação, e para eles seria melhor estar dentro da segurança moral do casamento. Aqui, vemos a sabedoria que é necessária antes de julgarmos os outros.

A questão da constância (vs. 10-16)

Ou, será que o divórcio é uma opção viável para os salvos, seja com um cônjuge convertido ou não convertido? Tendo dado conselho apostólico, na parte anterior, o escritor, com suas palavras “todavia, aos casados mando, não eu, mas o Senhor” (v. 10), está consciente de que o que ele vai dizer é parte do mandamento do Senhor; isto é, ele sabe, através do relato dos escritores dos Evangelhos, que o Senhor Jesus tinha falado esta verdade nos Seus discursos aos discípulos e aos fariseus (Mc 10:11-12, Lc 16:18). Constância, ou a continuidade do casamento, é o tema principal do ensino dado aqui pelo Senhor. O serviço para Deus nunca deve destruir esta constância, nem ser o motivo para interrompê-la. Em nossos dias, e no clima moral existente, este ensino é vital, e precisa ser ensinado ao povo de Deus. No primeiro conselho, nos vs. 10-11, temos dois salvos que são casados. Uma situação triste é prevista, onde a irmã casada sente que deve se separar do seu marido. A resposta bíblica, dada no v. 10, é bem clara, “a mulher não se aparte do marido”; não é a vontade de Deus que tal separação ocorra.

Mas, o apóstolo também reconhece que pode haver circunstâncias onde, apesar deste conselho, a esposa ainda vai deixar seu marido, e, para ajudar neste caso, mais conselho é dado; ela tem de permanecer não casada, ou se reconciliar com o seu marido. Não existe alternativa, as únicas opções são estas.

Às vezes a pergunta é feita: “será que a palavra ‘apartar’ usada nestes versículos significa uma separação legal?” Pela consideração anterior, podemos concluir que o ensino, e a linguagem empregada, exclui totalmente esta ideia. Os versículos estão enfatizando, de maneira clara e simples, a indissolubilidade do matrimônio, e estão ensinando que, se problemas entre cônjuges salvos têm causado o triste e não recomendável passo de separação, então a situação deve ser resolvida o mais rápido possível. Esta separação não desfez o vínculo matrimonial, de forma alguma, pois as palavras “mulher” e “marido” são sempre usadas. Na última parte do v. 11 temos a primeira referência no capítulo ao divórcio, e a afirmação categórica que ele não deve ocorrer. O mandamento aqui é para o homem, ele não pode “deixar”, isto é, divorciar, sua esposa. Fica evidente pela linguagem usada nos vs. 10-11 que se refere a um marido e uma mulher salvos.

O resto deste trecho, do v. 12 em diante, é diferente, porque casamentos entre salvos e descrentes estão sendo considerados. Em primeiro lugar devemos notar que enquanto a Bíblia toda fala contra o jugo desigual, esta situação frequentemente surgia, e ainda pode surgir, quando a salvação chega à família e somente um cônjuge é salvo. O lar em que Timóteo foi criado provavelmente era assim (veja At 16:1). O ensino inspirado do apóstolo é muito claro, afirmando que este problema certamente não é motivo para divórcio, e assim temos o segundo conselho, nos vs. 12-17, ao cônjuge salvo. Em primeiro lugar é o marido salvo que é considerado, no v. 12, e depois a esposa salva, no v. 13. Em cada caso há um conselho firme: para o homem, “não a deixe”, e para a mulher; “não o deixe”. Bruce, no seu comentário, usa a palavra “divórcio” apenas três vezes neste capítulo todo. Estas referências estão nos vs. 11, 12 e 13, e em cada caso a frase que ele usa é “não pode divorciar-se”. O tema deste capítulo, no seu contexto, não é o divórcio, e quando é mencionado nestes poucos versículos, a ordem clara dada é para não divorciar. Portanto, fica muito claro que é a continuidade do casamento que é ensinada nesta parte.

Os vs. 14-16 contêm mais conselhos e ensinos para aqueles que estão num lar dividido, espiritualmente. O apóstolo aqui está encorajando o marido salvo, ou a mulher salva, quanto à sua posição individual. Santificação tem muitos aspectos, no NT, e o aspecto tratado aqui é frequentemente chamado de “santificação relativa”. Não é que a presença do cônjuge salvo traz a santificação da salvação para o outro. Antes, mostra como Deus considera o jugo matrimonial de uma maneira especial por causa da influência da presença do salvo. O relacionamento normal da vida conjugal do marido e mulher pode continuar, e os filhos também são santificados no mesmo sentido. O v. 15 reconhece que sempre haverá o cônjuge descrente que deixará aquele que foi salvo. O salvo já foi encorajado a não fazer tal coisa, mas se o descrente o faz, o cônjuge deixado deve ficar passivo, “aparte-se”.

A próxima afirmação tem gerado muita discussão: “porque neste caso o irmão, ou irmã, não está sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz” (v 15). Isso é considerado por muitos como uma base legítima para o divórcio e possível novo casamento. É ensinado também que, se o descrente insiste no divórcio, o salvo não pode negar o pedido, e os dois ficam livres para se casarem de novo. Tal interpretação não observa bem o contexto e entende, no v. 15, algo que não está nele. Devemos notar que a escravidão mencionada aqui não é a mesma que encontramos no final do capítulo. Aqui a palavra empregada é a palavra comum para um escravo (douloõ). Esta palavra nunca é usada nas Escrituras para matrimônio, e é muito diferente do verbo deõ que é usado no v. 39, onde significa “estar ligado”.

A liberdade da servidão, mencionada no v. 15, não se aplica ao suposto direito de um novo casamento, mas à continuidade da vida cristã normal do salvo. Ele, ou ela, se torna livre e tranquilo para adorar e servir ao Senhor, sem as constantes dificuldades no lar causadas pelas exigências impróprias, e talvez, pela oposição do descrente. O comentário de Barnes sobre a expressão “aparte-se” neste versículo é útil: “Você não pode o evitar, portanto deve se submeter à situação com paciência, e suportá-la como salvo”. Também, seu comentário sobre “o irmão, ou irmã não está …”, é:
Muitos têm deduzido que isto significa que eles estariam em liberdade para casar-se de novo, quando o descrente for embora. Mas isto vai contra o sentido do argumento do apóstolo. O significado da expressão “não está sujeito à servidão” é que, se eles impetuosamente se separaram, aquele que fica não tem mais a responsabilidade de sustentar aquele que saiu, ou fazer algo que possa ser prejudicial à sua fé ao tentar obrigar ou forçar aquele que quer sair a ficar contra a sua vontade. Antes, está em liberdade para viver separado, e deve aceitar que é certo fazer isto.
Também, sobre a expressão “Deus chamou-nos para a paz”, Barnes escreve:
A religião é pacífica e evita contendas e brigas. Isto deve ser um princípio fundamental. Se isso não pode ser obtido vivendo juntos, deve haver uma separação pacífica; e onde tal separação acontecer, aquele que saiu deve poder viver separado em paz.
Assim, o apóstolo nos relembra que fomos chamados a, ou em, paz.

As palavras que seguem são também muito importantes para a compreensão do contexto aqui. “Porque de onde sabes …” (v. 16). Qual seria o motivo destas palavras se o ensino da passagem é sobre a possibilidade de desfazer o vinculo matrimonial? Pelo contrario, o apóstolo aqui está confirmando a possibilidade de que aquele que saiu ainda seja abençoado com a salvação, e o resultado será uma reconciliação e harmonia matrimonial em Cristo. O trecho todo, dos vs. 10-16, está enfatizando a importância da perpetuidade do casamento.

A questão do contentamento (vs. 17-24)

Ou, será que um novo convertido deve deixar o cônjuge descrente? As afirmações finais da sessão anterior expressam o desejo pela salvação do cônjuge descrente. Obviamente, o salvo não pode salvar o outro. A referência é sobre uma vida piedosa e exemplar, acompanhada de muita oração. Mas será necessário um tempo de espera para que esta salvação aconteça. É aqui que entra a necessidade de uma vida pacífica, com contentamento. Os caminhos soberanos de Deus, na vida individual, às vezes trazem circunstâncias que exigem disciplina e o reconhecimento de que Deus está no controle. A verdade do v. 17 não é facilmente aprendida. A salvação muda a vida da pessoa salva, mas não muda as circunstâncias da vida em que esta pessoa se encontra no tempo da sua conversão. Agora, vários exemplos são acrescentados. Antes de considerarmos estes exemplos, devemos notar que Deus está no controle de tudo, e quer que nós aceitemos nossas circunstâncias como vindas dEle mesmo.

Nos vs. 18-20, os exemplos provam que alguns já eram circuncidados antes da sua salvação. Estes foram salvos do mundo do judaísmo. Outros não eram circuncidados e estes foram salvos do mundo dos gentios. O apóstolo aqui está mostrando que o passado não pode, nem deve, ser mudado. Ele também mostra que a posição no judaísmo não tem valor no presente dia da graça. Nos vs. 21-23, a mesma coisa é agora ilustrada para aqueles que, no tempo da sua conversão, eram escravos, enquanto outros eram livres. Se surgisse a oportunidade para o escravo se tornar livre, então ela deveria ser aproveitada, mas o aspecto principal da liberdade e do serviço agora pertence à esfera espiritual, não à física. A lição principal é viver submisso a, e satisfeito com, as circunstâncias nas quais Deus nos permite estar. O v. 24 termina esta parte com a exortação para vivermos perante Deus no lugar que Ele escolheu para nós.

Antes de deixar esta parte, devemos notar o perigo de entender mal este conselho. Isso não se aplica a comportamento moral. Se, antes da conversão, alguém tinha sido, durante muitos anos, ladrão, ele precisava mudar o comportamento da sua vida, desde o momento quando nasceu de Deus. O mesmo apóstolo escreveu: “Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade” (Ef 4:28). Alguns contradizem isto usando as palavras de Paulo em I Co 6:11: “E é o que alguns têm sido”. Podemos facilmente ver que não diz: “E é o que alguns são”. O comportamento dos coríntios tinha mudado depois da conversão, como sempre precisa acontecer.

Pergunta 2

“Quanto às virgens … é bom para o homem o estar assim” (vs. 25-26).

Introdução (v. 25)

A segunda pergunta é sobre virgens, e inicialmente trata especificamente daqueles que tinham se entregado voluntariamente à vida de celibato. Como o apóstolo desenvolveu a primeira pergunta detalhadamente, agora ele considera este assunto com muitos detalhes também. Talvez seja importante repetir que, quando possível, ele faz referência aos mandamentos do Senhor Jesus sobre o assunto tratado. Contudo, a ausência destas referências não nega, de modo algum, a inspiração que é o alicerce de cada parte das Escrituras. Precisamos notar que a palavra “virgem”, nas Escrituras, se refere tanto a homens como a mulheres. Vemos isso com clareza em Apocalipse, onde lemos dos 144.000 remidos da terra: “Estes são os que não estão contaminados com mulheres; porque são virgens … Estes são os que dentre os homens foram comprados” (14:4). Aqui, no nosso trecho, o apóstolo usa a palavra para descrever homens e também mulheres, e sabemos a quem a expressão se refere pelo contexto imediato. Devemos acrescentar que no VT mais que uma palavra hebraica é usada para “virgem”, mas no NT a mesma palavra grega é sempre empregada. Neste capítulo esta palavra é usada cinco vezes, diretamente, e na primeira referência (v. 25) parece referir-se a ambos os sexos. No v. 26 a palavra é usada indiretamente, e se refere ao homem.

Muitas sugestões (com opiniões opostas) tem sido feitas ao longo dos anos sobre a identidade destes virgens. Contudo, há boas e firmes razões para considerá-los como sendo os pares comprometidos durante o tempo de desposado (noivado), pelas seguintes razões:
  • Em outras partes do NT a palavra “virgem” frequentemente é usada para descrever uma moça desposada (Lc 1:27; Mt 1:18, 23; 25: 1-13; II Co 11:2).
  • O caráter judaico do Evangelho de Mateus enfatiza a distinção entre o período de desposado e o tempo quando o marido tomaria sua noiva da casa do seu pai. Mas o relacionamento entre José e Maria é simplesmente descrito por Lucas como “desposado”. Isso porque ele estava escrevendo a um grego.
  • Os vários usos da palavra “mulher” devem ser diferençados no relato de Mateus, lembrando da seriedade com que o “desposado” era visto na sociedade judaica.
Assim, o apóstolo está dando conselho inspirado a homens e mulheres que são virgens desposados. Devemos notar que este desposado era especificamente um costume hebraico, mas não era restrito aos judeus, pois esta epístola foi dirigida a uma igreja localizada no mundo gentio. Nós sabemos que havia muitos na igreja em Corinto que tinham uma forte ligação judaica (At 18:4, 7-8). A pergunta que estes casais fizeram a Paulo estava relacionada ao seu dever de cumprir, ou não, o seu compromisso matrimonial, por causa da presente necessidade. Em resposta, o apóstolo novamente enfatiza o valor de ficar livre da responsabilidade matrimonial para servir melhor ao Senhor, sem dizer que o casamento impossibilita este serviço. A resposta à pergunta agora é ampliada , nos vs. 26-37, dando três vantagens ao celibato.

O celibato e a necessidade presente (vs. 26-28)

Não fica totalmente claro o significado da frase “a instante necessidade”, no v. 26. Certamente já existia muita perseguição e tribulação na obra do Senhor naquele tempo. Também, sabemos que não muitos anos depois disto, aconteceu o grande cerco de Jerusalém, por Tito e seu exército. Também, Paulo sabia que sua própria vida de serviço era um caminho de constante tribulação física. À luz destes fatos, ele desejava ficar o mais livre possível para servir ao Senhor, enquanto as oportunidades ainda existiam. Tais fatos provavelmente são a explicação correta pela urgência que ele expressa aqui. Liberdade total para servir era vital, e isto influenciava o conselho que ele dava aos outros sobre o casamento.

As exortações dos vs. 27-28 (“Estás ligado a mulher? não busques separar-te. Estás livre de mulher? não busques mulher”) precisam ser vistas com este mesmo pano de fundo em mente. Citamos o comentário de Alford sobre este versículo:
“Estás livre de mulher” não indica que houve um casamento anterior, mas descreve todos que não estão ligados pelo laço matrimonial, quer tivessem sido casados, ou não.
J. N. Darby, na sua tradução do versículo, diz: “Tu estás ligado a uma mulher? Não procures ser desligado dela. Tu estás livre de mulher? Não procures uma esposa”. Também, Barnes comenta:
  • A frase “estás livre de mulher?” deve ser traduzida: “Estás solteiro?” Não indica, necessariamente, que a pessoa tenha sido casada antes, embora possa incluir isso, e se referir àqueles que foram separados da sua esposa pela morte. Não há qualquer necessidade de supor que Paulo se refere à pessoas que tinham divorciado suas esposas.
Na consideração destas citações, precisamos enfatizar, novamente, que Paulo aqui está respondendo a uma pergunta feita por pessoas (virgens) desposadas e não casadas ainda. Ele não está recapitulando assuntos já tratados nos versículos anteriores. Alguns têm insistido que, porque a palavra “deõ” aqui é a mesma usada na ilustração empregada em Rm 7:2, o vínculo, nos dois casos, tem que ser o matrimonial. Contudo, a regra segura em toda a interpretação é sempre guardar em mente o contexto. Romanos 7 trata, obviamente, do caso de uma mulher casada, mas aqui o contexto é sobre um casal desposado. Tal linguagem é adequada quando lembramos que a moça desposada é chamada de “mulher” (esposa) em Mt 1:20. A expressão “separar-te” é uma só palavra no grego. Sua força não é necessariamente passiva, e poderia significar “não procures desligamento” (lúsis). O versículo não nos informa sobre como este desligamento deve acontecer. A palavra em si não é usada mais no NT grego, nem na Septuaginta, para indicar divórcio. Além disso, este versículo é uma proibição. A ordem negativa é “não busques separar-te” (ou “busques não lúsis”). Portanto, fica claro que tal frase não pode ser usada como licença para o divórcio. Devemos notar também que antes, neste capítulo, quando o escritor fez menção do divórcio, o verbo que ele usou não foi iúgõ ou apolúõ, mas aphíemi. Isto, em si, torna suspeita qualquer sugestão de que ele esta falando sobre divórcio, e confirma que não há nenhuma razão gramatical na passagem para interpretá-la como sendo divórcio.

Alguns têm afirmado que a expressão “livre de mulher” permite o divórcio, mas já vimos que não existe o pensamento de divórcio nesta parte do capítulo, e nenhuma indicação de como tal separação poderia ser realizada. Se significasse o divórcio (por exemplo, um homem divorciando sua esposa), precisaríamos de mais evidência no contexto antes de podermos ensinar tal conclusão, e não encontramos esta evidência no NT nem na Septuaginta. O argumento mais forte contra o ensino que o possível divórcio é sugerido aqui é que, como já observamos, o contexto trata de pessoas ainda não casadas (veja v. 25). As únicas referências ao divórcio, neste capítulo, são para desencorajar o seu uso. Assim, o alvo principal da exortação é dar prioridade ao avanço da obra de Deus, à luz da possibilidade de vir um tempo de tribulação sobre eles. A informação dada no v. 28 apoia ainda mais o fato de que é a virgindade dos noivos que está em vista neste trecho.

O celibato e a volta futura de Cristo (vs. 29-31)

O apóstolo Paulo, nos seus escritos, enfatiza muitas vezes a brevidade de tempo que nos resta para servir ao Senhor. Foi a ele que a verdade do arrebatamento iminente foi revelada, e portanto não lhe era uma mera teoria, e também não deve ser para nós. A importância do devido respeito mútuo no casamento já foi mencionado, mas aqui o fato da iminência da vinda de Cristo deve regular até isso. No v. 30 as tristezas, alegrias e também os nossos recursos financeiros devem ser sujeitos a este grande fato da volta do Senhor. No v. 31, o mundo e seus caminhos também devem ser mantidos nesta perspectiva.

O celibato e a ordem espiritual das nossas vidas (vs. 32-38)

Esta seção geral termina aqui com um resumo e aplicação do valor da condição de liberdade na vida daqueles que não têm compromissos com outros. Paulo respondeu à pergunta de uma maneira ordenada e sensata. Ele deseja ardentemente que os salvos tivessem o mínimo de ansiedade nas suas vidas, pois isto poderia desviá-los da Obra, tão importante a Paulo no seu serviço devotado a Deus. Nos vs. 32-35, ele enfatiza isto e fala da diferença entre uma esposa e uma virgem, isto é, uma mulher solteira. Os fatos são claros, embora o apóstolo reconhece aqui, como em outros lugares, que o matrimônio é de Deus, e tem a Sua aprovação. Sua ambição principal é que o Senhor e Seus interesses sejam sempre servidos.

Nos vs. 36-38 há uma referência a um homem e sua virgem. Várias opiniões têm sido sugeridas sobre o significado correto desta situação. Parece correto ao escritor considerar isto como uma continuação contextual do tema que vem sendo considerado desde v. 25. Em vez de um comportamento indigno, o casal desposado há muito tempo deve se casar. Contudo, se este tempo de desposado pudesse ser prolongado com o devido controle, isto serviria melhor às prioridades apresentadas neste capítulo, e assim os interesses de Deus seriam melhor servidos. Porém, se houvesse dúvida, seria melhor casar, mesmo sabendo que haveria circunstâncias físicas difíceis de enfrentar.

Compromisso (vs. 39-40)

Em conclusão, estes dois versículos enfatizam tanto o compromisso como a continuidade do estado matrimonial. O vínculo, estabelecido pelo casamento, somente pode ser desfeito pela morte. Durante a vida este vínculo continua, perante Deus, qualquer que seja a circunstância; a união é formada por Deus e somente pode ser desfeita por Ele. A liberdade para um novo casamento, depois da morte do marido, é restrita a um novo marido que esteja “no Senhor”. O versículo final enfatiza a liberdade que a morte trouxe, e com ela a oportunidade de permanecer livre e usar mais tempo em servir ao Senhor. Isso não é obrigatório, mas é recomendado e merece uma consideração cuidadosa.

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