Cobrindo e Descobrindo a Cabeça

O texto abaixo faz parte do livrete “O Véu” da série “Princípios de Igreja” publicado pela Editora Sã Doutrina. [comprar]


Em todas as reuniões de todas as igrejas locais os irmãos devem estar com suas cabeças descobertas, e as irmãs com suas cabeças cobertas. Este é o ensino simples apresentado nas Escrituras (um ensino, é verdade, muito questionado hoje em dia). Deus diz: “O homem, pois, não deve cobrir a cabeça … a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio” (I Co 11:7, 10). Mesmo reconhecendo que há coisas profundas no trecho que estamos considerando, é muito claro que o ensino básico da passagem é este. Como diz o dr. N. J. Gourlay: “Podemos parafrasear as instruções assim: é a vontade de Deus que, nas reuniões do Seu povo, os homens tenham a cabeça descoberta e as mulheres tenham uma cobertura sobre suas cabeças, e que os homens tenham cabelo curto e as mulheres cabelo comprido” (Church Symbols for Today, págs. 121-122).


O mandamento central e básico desta passagem é claro e simples. Na Sua sabedoria, porém, Deus não apenas estabelece a ordem — Ele explica as razões. O trecho que serve de base para este estudo apresenta cinco razões para a ordem que Deus deu, as quais quero considerar resumidamente com o leitor. Também tentarei responder a cinco objeções que são apresentadas, até com certa frequência, quando este assunto é apresentado.

Antes disto, porém, algumas coisas precisam ser estabelecidas:
  • Não devemos obedecer a Deus nesta questão por causa das cinco razões apresentadas, mas simplesmente porque Ele mandou! é bom procurar saber, obviamente, o “por quê” da Sua ordem, mas mesmo que não houvesse nenhuma explicação dada e nenhuma razão apresentada, teríamos a mesma responsabilidade de obedecer. Veja Lc 6:46-49; Jo 14:15; 15:14.
  • O ensino de I Co 11:1-16 é para irmãos e irmãs. Tão importante quanto as irmãs cobrirem suas cabeças é os irmãos descobrirem as suas. Tão errado quanto uma irmã descobrir sua cabeça é um irmão cobrir a sua. A responsabilidade das irmãs normalmente é mais enfatizada (talvez porque custa menos para um homem descobrir sua cabeça do que para uma mulher cobrir a sua), mas ambos (homem e mulher) têm a mesma responsabilidade nesta questão.
  • O ensino em questão é para homens e mulheres salvos, batizados e no contexto da sua igreja local. Dizer que o véu deve ser usado sempre que uma mulher ora, mesmo em particular, seria limitar a liberdade de comunhão com o Pai que deveria ser constante na vida do cristão. Temos um novo e vivo caminho aberto que nos conduz até ao trono da graça, um caminho do qual podemos nos aproveitar a qualquer hora, em qualquer lugar, e nenhum ritual ou formalismo deve limitar nosso acesso a Deus em oração individual (quando a igreja se reúne, porém, é necessário haver ordem). O ensino deste capítulo foi dado a uma igreja local (veja I Co 1:1-2), e deve ser obedecido sempre que a igreja está reunida. No contexto familiar ou particular, porém, não se aplica. [Nota 1]
  • Deus nada fala sobre a forma da cobertura. Dependendo da região, usa-se véu (ou mantilha), lenço na cabeça, chapéu, etc. A forma da cobertura é irrelevante; o importante é que, no caso das irmãs, a cabeça esteja coberta. Bom senso, obviamente, é necessário, pois não será qualquer coisa jogada sobre a cabeça que constituirá uma cobertura. Alguns tipos de “cobertura” não merecem este nome, porque realmente não cobrem nada (são pequenos demais, ou invisíveis na cabeça da irmã devido à sua cor, etc.). Sem dúvida é necessário escolher criteriosamente o tamanho, cor e forma da cobertura — porém é errado exigir um determinado tipo de cobertura (véu apenas branco, ou só chapéu, etc.). Temos que insistir no que a Bíblia diz, porém sem ir além do que está escrito.

a. O ensino positivo

Uma vez estabelecidos os pontos acima, podemos olhar para o ensino positivo sobre este assunto. I Co 11 é o único trecho no Novo Testamento que fala sobre o véu, mas nem por isso a questão é duvidosa. A seguir, veja cinco razões apresentadas por Deus pelas quais as irmãs, no contexto da igreja, devem usar o véu, e os irmãos devem ter a cabeça descoberta.

a.1. A questão da cabeça (vs. 3-6)

Primeiro, Deus afirma o princípio; depois Ele o aplica. O princípio importante aqui é o de soberania, de liderança (simbolizado pela figura da cabeça). Deus está mostrando que homem e mulher, na igreja, não ocupam a mesma posição. São iguais no que se refere à sua posição em Cristo (os vs. 11-12, além de Gl 3:28, mostram isto claramente), mas não nas suas funções na igreja local (e nem na família, apesar de este não ser o assunto do trecho em questão). Na igreja local, diz o Senhor, o homem é cabeça da mulher.

Esta posição de submissão que a mulher ocupa é unicamente consequência da hierarquia que Deus estabelece na Sua criação, e não tem relação com a capacidade, o valor ou a utilidade do homem ou da mulher. Pois o texto afirma, na mesma frase, que “Deus é cabeça de Cristo”. Deus e Cristo são iguais em poder, em majestade, em glória, em divindade, e em todos os Seus atributos; os dois são um. Nos propósitos divinos, porém, era necessário que Cristo se submetesse à liderança do Pai, o que Ele voluntariamente fez. Isto não é apenas algo decorrente da encarnação do Filho de Deus, mas faz parte dos relacionamentos eternos deste nosso Deus Triuno.

O texto está enfatizando que a mulher deve imitar o exemplo do Senhor Jesus Cristo; assim como Ele submete-Se voluntariamente ao Pai, ela deve submeter-se voluntariamente ao homem na igreja local. Assim como o Filho não se torna inferior ao Pai por obedecê-Lo, assim as irmãs não tornam-se inferiores aos irmãos, nem merecem menos respeito, por obedecê-los. é importante que todo irmão entenda que é cabeça da mulher porque Deus quer, não porque os homens são melhores ou superiores. é igualmente importante que toda irmã entenda que deve ser submissa aos irmãos na igreja porque Deus quer, não porque as mulheres são inferiores.

Tendo afirmado o princípio no v. 3, Deus nos fornece sua aplicação nos vs. 4-6. O princípio é claro: Cristo é cabeça do homem, e o homem é cabeça da mulher. Mas qual a relação deste princípio com a prática de cobrir ou descobrir a cabeça? O texto explica a figura que Deus estabeleceu.

Quando um homem cobre sua cabeça nas reuniões da igreja, diz o v. 4, ele desonra a sua cabeça (que é Cristo). Por quê? Porque ao cobrir sua cabeça física ele está (figurativamente, é claro) cobrindo e escondendo sua cabeça espiritual (que é Cristo). Ele está, em figura, dizendo que Cristo não tem autoridade ali, que Sua posição como Cabeça não está sendo reconhecida. Por outro lado, o ato físico de descobrir a cabeça (tirando um chapéu, por exemplo) não tem nenhum poder místico, mas é uma maneira de dizer, em figura, que o verdadeiro cabeça do homem, Cristo, não está encoberto ou escondido naquela reunião.

O mesmo ocorre em relação às irmãs, como mostram os vs. 5 e 6. Se suas cabeças estiverem descobertas nas reuniões da igreja o símbolo que transmitem é que suas cabeças espirituais também estão descobertas, dizendo assim que o homem (que é o cabeça da mulher) está ocupando a posição de autoridade (posição de “cabeça”) naquela reunião. Ao cobrir sua cabeça, porém, estão dizendo, em figura, que sua cabeça espiritual (que é o homem) está encoberto e escondido.

Unindo os dois símbolos (a cabeça descoberta dos irmãos e a cabeça coberta das irmãs), veja que mensagem preciosa é transmitida. A igreja local está reunida — mas quem está em autoridade? Quem é o Cabeça naquela reunião? A cabeça coberta das irmãs indica que o homem, cabeça espiritual da mulher, não está governando ali; e a cabeça descoberta dos irmãos indica que Cristo, Cabeça espiritual do homem, é quem está governando. Percebam, irmãos, a importância do símbolo! Se um irmão cobrir sua cabeça durante a reunião, ou se uma irmã descobrir a sua, a autoridade e liderança de Cristo estarão sendo, em símbolo, desprezados!

Uma ressalva, porém, antes de passarmos adiante: a obediência externa ao símbolo não garante que há obediência no coração (mas isto em nada tira a importância do símbolo). Voltaremos a esta questão ao considerar o segundo argumento apresentado.

a.2. A questão da glória (vs. 7-9)

A segunda razão apresentada é igualmente importante. O princípio estabelecido é que o homem (varão) é a glória de Deus, e a mulher é a glória do homem (v. 7). Assim como o Senhor Jesus fez quando ensinou-nos que o divórcio é pecado (Mt 19:4-6), o Espírito Santo nos leva de volta à Criação do mundo para ilustrar Seu ensino. Deus, na Criação, fez o homem (varão) à Sua imagem e semelhança, como a coroa da Criação (Sl 8:5-8). A mulher, porém, dizem os vs 8-9, foi criada do homem (Gn 2:21-22) e por causa do homem (Gn 2:18). Isto é, Deus criou a mulher por causa do homem, mas criou o homem para Ele. [Nota 2]

Novamente, devido aos extremos ensinados por alguns, é necessário enfatizar que isto não implica em desigualdade de valor perante Deus (os vs. 11-12 deixam isto bem claro). A desigualdade aqui é de função, não de valor.

Tendo estabelecido o princípio temos que aprender a aplicação também. O homem não pode cobrir sua cabeça nas reuniões porque ele é a glória de Deus. Sua cabeça descoberta diz, em figura, que Deus está sendo glorificado, pois a glória de Deus (o homem) não está escondida naquela reunião. Da mesma forma a irmã deve cobrir sua cabeça porque ela é a glória do homem. Sua cabeça coberta diz, em figura, que o homem não é glorificado naquela reunião, pois a glória do homem (a mulher) está escondida.

A mensagem que uma igreja transmite, portanto, quando obedece o ensino deste trecho, é dupla. Quando os irmãos descobrem suas cabeças e as irmãs cobrem as suas, a igreja está dizendo: “Nesta igreja, o Cabeça é Cristo; submetemo-nos à autoridade dEle. Além disto, buscamos somente a glória do nosso Deus. Obedecê-Lo é nosso prazer, glorificá-Lo é nosso alvo!”

Diante da importância solene desta figura que Deus estabeleceu, como deveríamos ter cuidado nesta questão. Um varão salvo jamais deve cobrir sua cabeça numa reunião duma igreja; uma mulher salva jamais deve descobrir sua cabeça numa reunião duma igreja (nem mesmo por alguns segundos, para arrumar seu cabelo).

Cabe aqui, obviamente, a mesma ressalva feita anteriormente: a obediência externa ao símbolo não garante que há obediência no coração, mas isto em nada tira a importância do símbolo. O ato de uma irmã cobrir sua cabeça ou de um irmão descobrir a sua não deve ser nossa única preocupação; também é necessário, no coração, concordar com aquilo que o símbolo apresenta. Infelizmente é possível obedecer ao símbolo mas não aceitar a soberania de Cristo e nem buscar a glória de Deus (é hipocrisia triste, mas é possível). Esta triste possibilidade, porém, não quer dizer que podemos tratar esta questão como algo opcional ou pessoal. é responsabilidade da igreja, através de seus anciãos, exortar seus membros neste sentido, mostrando-lhes que a irmã que não cobre a cabeça nas reuniões está desobedecendo a Deus, e o irmão que cobre sua cabeça igualmente desobedece. é necessário insistir que haja a obediência externa, porém insistir também que ela venha acompanhada da submissão e devoção internas.

a.3. Por causa dos anjos (v. 10)

O Espírito Santo apresenta, além deste dois argumentos profundos e solenes, mais três argumentos bem práticos, o primeiro dos quais aparece numa frase interessante: “Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos”. O que quer dizer isto?

O “sinal de poderio” (ou “sinal de autoridade” na ARA) é claramente o véu que a mulher deve ter na cabeça, um sinal que indica sua submissão à autoridade delegada por Deus, o homem. Qual é, porém, o interesse dos anjos nesta questão? Convém lembrar de três fatos:
  • Os anjos também se cobrem na presença de Deus (pelo menos os serafins — veja Is 6:2).
  • Os anjos que hoje estão com Deus são aqueles que não seguiram Satanás na sua revolta, mas que submeteram-se à soberania de Deus.
  • Além disto, eles já presenciaram a insubmissão de Eva no Jardim do éden (na qual Adão a seguiu).
Diante disto, sugiro que os anjos entendem e apreciam este “sinal de poderio”, vendo que as irmãs voluntariamente se submetem à hierarquia estabelecida por Deus e demonstram isto pelo uso do véu. Eles, que já viram insubordinação no Céu e na Terra, mas que submetem-se voluntariamente a Deus, aprendem que mesmo no meio da insubmissão que reina no mundo há pessoas que têm o mesmo desejo que eles têm de honrar seu Criador.

a.4. Por causa da natureza (vs. 13-15)

O segundo dos três argumentos práticos é baseado na natureza. Se a própria natureza ensina que há uma distinção entre os sexos, é mais um motivo para mantermos esta distinção também na igreja. Mas o que quer dizer “natureza” neste contexto? Convém citar os comentários de M. Poole:

“Por natureza alguns entendem a lei da natureza, como se houvesse algum mal intrínseco nisto [o comprimento do cabelo], o que obviamente não é verdade; pois se fosse, os nazireus não poderiam usar cabelo comprido (como faziam) … Outros entendem por natureza a lei das nações, mas isto também não é verdadeiro, pois em muitas nações os homens usam seu cabelo bem comprido. Outros entendem que é um senso-comum, a capacidade de percepção da razão natural que, desde a Queda, permanece no homem; mas tal percepção seria igual em todos os homens, e sabemos que nem todos consideram isto vergonhoso. Outros, portanto, por natureza entendem um costume comum … mas não pode ser, pois não há, e nunca houve, tal costume universal a ponto de nenhum homem usar cabelo comprido. Outros por natureza entendem a inclinação natural; mas isto também não pode ser, pois alguns homens têm uma inclinação e propensão natural para usar seu cabelo excessivamente longo. Outros por natureza entendem a diferença entre os sexos, como a palavra é usada em Rm 1:16; isto é, a diferença entre os sexos nos ensina assim, e este parece ser o sentido mais provável do texto” (edição de 1700 de Annotations upon the Holy Bible, Matthew Poole).

é possível confirmar a exatidão da conclusão de Poole ao analisar a definição da palavra grega traduzida “natureza”. O léxico de Thayer dá as seguintes definições: “1. natureza (1.1 a natureza das coisas, a força, leis e ordem da natureza; 1.2. contrastado com o que é monstruoso, anormal, perverso; 1.3. contrastado com o que foi produzido pela arte humana); 2. nascimento, origem física; 3. uma forma de sentir e agir que, pelo costume, tornou-se natural; 4. a soma das propriedades e poderes inatos pelos quais uma pessoa difere das demais, peculiaridades naturais, características naturais.”

Seguindo o raciocínio de Poole, e por eliminação, percebemos que a única definição da palavra que encaixa no contexto deste capítulo é a última. Há uma diferença natural entre homem e mulher decorrente da Criação, uma característica inata, uma diferença estabelecida por Deus. E assim como Deus deu à mulher um véu natural [Nota 3], o que não acontece com o homem, assim também na igreja a mulher deve proceder de forma diferente do homem, cobrindo sua cabeça, pois não é decente que a mulher ore a Deus descoberta (v. 13).

a.5. Por causa do costume das igrejas (v. 16)

Para finalizar, um argumento simples e convincente: se alguém, depois de toda a argumentação dos versículos anteriores, ainda quisesse ser contencioso, Paulo afirma que as igrejas de Deus, e os apóstolos, não tinham o costume de contender com a Palavra de Deus. O costume nas igrejas na era apostólica era que as irmãs cobriam suas cabeças e os irmãos descobriam as suas, um costume ensinado pelos apóstolos e que devemos imitar ainda hoje.

Nunca foi o propósito de Deus que houvesse tantas diferenças entre Suas igrejas. Esta primeira epístola aos Coríntios confirma isto, pois fala de um mesmo “ensino em cada igreja” (4:17), mesmas ordens quanto ao casamento “em todas as igrejas” (7:17), um mesmo costume “nas igrejas de Deus” (11:16), a mesma apreciação de Deus “em todas as igrejas dos santos” (14:33), um mesmo ensino quanto à coleta dado nas igrejas da Galácia e em Corinto (16:1). Há um padrão claramente apresentado no Novo Testamento, e é nossa responsabilidade descobri-lo e segui-lo. O ensino quanto ao véu faz parte deste padrão.

a.6. Resumindo…

Antes de olhar para algumas objeções que são apresentadas ao ensino acima, convém resumir o que já vimos. Usando cinco argumentos diferentes (dois profundos, figurativos de verdades espirituais, e três mais simples e práticos) aprendemos que o uso do véu é parte integrante do padrão de igreja revelado no Novo Testamento. Quando uma igreja local está reunida você, irmã, deve cobrir sua cabeça porque o homem é seu cabeça, porque você é a glória do homem, porque os anjos a observam, porque o seu cabelo comprido é um véu natural dado por Deus, e porque isto faz parte do modelo de igreja estabelecido por Deus. E você, irmão, não pode cobrir sua cabeça porque Cristo é seu cabeça, porque você é a glória de Deus, porque os anjos o observam, por causa da diferença natural entre homem e mulher, e porque isto faz parte do modelo de igreja estabelecido por Deus.

Que sejamos prontos a obedecer nesta questão tão importante!

b. Os argumentos contrários

Existem muitos argumentos contrários àquilo que foi apresentado acima. é necessário, portanto, tomar o tempo para analisar estes argumentos (pelo menos aqueles que são mais usados) à luz da Palavra de Deus.

b.1. O argumento humano

Muitos afirmam que I Co 11:1-16 (e outros trechos que ofendem a ideologia moderna) são palavras humanas, as palavras de um judeu machista e preconceituoso. Insistem que, devido à formação judaica de Paulo, ele desprezava as mulheres, e isto se manifestou no seu ensino.

Há dois problemas sérios com este argumento. Primeiro, o restante do Novo Testamento contradiz este suposto preconceito de Paulo. Em Rm 16, por exemplo, ele recomenda e elogia diversas irmãs. Em Fp 4:2-3 ele lembra do serviço importante de Evódia e Síntique. Escrevendo a Timóteo, Paulo destaca que a mãe e a avó deste foram usadas por Deus na salvação do jovem Timóteo (II Tm 1:5; 3:14-15). Lendo todo o Novo Testamento com uma mente aberta veremos que Paulo não foi, de forma alguma, um machista preconceituoso.

Independentemente disto, porém, a questão principal é que I Co 11, e todo o restante da Bíblia, é a Palavra “inspirada por Deus“ (II Tm 3:16), e que nenhuma parte dela “foi produzida pela vontade de homem algum [nem de Paulo, nem de João, nem de homem algum], mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (II Pe 1:21). Atribuir algum ensino das cartas de Paulo (qualquer um) à sabedoria do próprio Paulo é negar a doutrina da inspiração da Bíblia.

Não foi Paulo quem inventou o ensino sobre o véu; foi algo ensinado pelo Espírito Santo através de Paulo. Quem desobedece este assunto desobedece a Deus, não a Paulo.

b.2. O argumento cultural

Outro argumento usado com frequência é aquele que diz que este ensino era somente para o povo de Corinto daqueles dias; era algo temporário, cultural, e não se aplica nos dias e na cultura em que nós vivemos.

O problema com este argumento, porém, é que em I Co 11:1-16 não há uma única menção de aspectos culturais[Nota 4]. A doutrina da cobertura não é baseada em argumentos culturais, mas sim em dois princípios espirituais importantíssimos (quem é nosso Cabeça, e a quem queremos glorificar), na observação por parte dos anjos, na diferença natural entre homem e mulher, e no padrão de conduta observado pelas igrejas. Os dois princípios espirituais mencionados continuam tão válidos hoje quanto na Corinto do século I; não temos a menor indicação que os anjos mudaram seus hábitos desde aqueles dias; a diferença natural é baseada na Criação, não em Corinto; e as igrejas de Deus não têm nenhuma autorização para mudar nenhum detalhe do padrão apresentado no NT.

Ou seja: o argumento cultural não é válido; o ensino quanto à cobertura na cabeça, porém, é válido e atual, mesmo neste século XXI.

b.3. O argumento textual

Alguns apelam para as aparentes contradições entre o texto de I Co 11:1-16 e I Co 14:34-35 como uma justificativa para descartar o ensino que estamos considerando. Isto porque I Co 11 parece concordar com um ministério público e audível para as mulheres (v. 5), enquanto que I Co 14 claramente proíbe tal ministério.

Se cremos na inspiração da Bíblia, porém, sabemos que ela não pode conter contradições (a Palavra de um Deus onisciente não pode se contradizer). Ao invés de descartarmos um dos dois trechos devemos procurar harmonizá-los. Se, com esta intenção, olharmos a epístola como um todo, as aparentes contradições desaparecem. Paulo trata, inspirado pelo Espírito Santo, de dois problemas distintos (porém relacionados): o fato de algumas mulheres na igreja em Corinto não cobrirem suas cabeças nas reuniões, e o fato de algumas delas participarem audivelmente destas reuniões. O cap. 11 apresenta a correção para o primeiro problema, mostrando que é indecente a mulher estar na reunião com a cabeça descoberta. O cap. 14 trata do segundo problema, afirmando que é indecente que as mulheres falem na igreja.

Como diz D. Gilliland, “tomar o cap. 11 como palavra final e depois procurar interpretar o cap. 14 à luz do cap. 11 certamente inverte a sequência normal. é muito mais lógico seguir a sequência natural da carta, e aceitar o cap. 14 como a palavra final no assunto nesta epístola, permitindo que o cap. 14 governe o nosso entendimento do cap. 11, e não vice-versa” (O Ministério das Irmãs, Editora Sã Doutrina).

b.4. O argumento natural

Outra fonte de dúvida (ou controvérsia) são as palavras do v. 15: “porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu”. A conclusão de alguns é que se o cabelo foi dado em lugar de véu, então as irmãs não precisam de um véu artificial, pois já têm um véu natural.

Repare, porém, três coisas:
  • A palavra traduzida “véu” no v. 15 é bem diferente da usada no restante do capítulo. O capítulo usa várias vezes a palavra katakalupto, que significa “cobrir, usar um véu”, enquanto que o v. 15 usa a palavra peribolaion, que significa “um manto, algo jogado em torno de” (Thayer). O véu do v. 15, portanto, não é a cobertura dos vs. 5, 6, etc.
  • Teremos um sério problema na lógica deste capítulo se concordarmos com o argumento natural. Se o véu é o cabelo da irmã, então como entender (por exemplo) o v. 6: “…se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também”? Se o véu é o cabelo, então para não cobrir-se com véu a mulher teria que tosquiar-se, rapar sua cabeça; mas então, porque dizer “tosquie-se também”? é como se Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, dissesse: “…se a mulher se tosquia, tosquie-se também”, o que seria uma bobagem incoerente.
  • Este argumento natural trará, também, um problema para os irmãos. Se o véu é o cabelo, então as irmãs não precisam de nenhuma outra cobertura; mas os irmãos, que devem ter a cabeça descoberta nas reuniões, teriam então que rapar suas cabeças!
Realmente é um absurdo sugerir que Paulo, com toda sua capacidade, usaria um argumento ilógico destes. Pior do que isto, é blasfêmia crer que o Espírito Santo, Deus onisciente, poderia escrever desta forma. O argumento natural é impossível de ser aceito.

b.5. O argumento contraditório

Por fim, devo mencionar um argumento que é mais que absurdo, por ser tão contraditório. O texto que estamos considerando termina dizendo: “Mas, se alguém quer ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus”. Alguns querem sugerir que Paulo está dizendo: “nós não temos tal costume de usar véu, nem as igrejas de Deus”.

Prezado leitor, basta uma rápida olhada no trecho todo para perceber o absurdo desta sugestão. Ou alguém sinceramente pensa que Paulo se esforçaria tanto para mostrar que as igrejas devem ter o costume do véu (gastando mais de uma dúzia de versículos para isto, usando cinco argumentos diferentes, dois dos quais baseados em princípios fundamentais), tudo isto para depois terminar de forma tão contraditória, admitindo que nem ele, o apóstolo, nem as igrejas daquela época, tinham tal costume? Ou algum filho de Deus ousaria sugerir que o Espírito Santo apresentaria um ensino de forma tão convincente para depois sugerir que tal ensino não precisa ser praticado?

Não; com certeza não. A única forma coerente de entender este versículo é como foi sugerido no item a.5.

Conclusão

Depois de olhar para o ensino positivo deste trecho e considerar, resumidamente, algumas objeções que costumam ser apresentadas, repito que não há nenhuma dúvida quanto à vontade de Deus sobre este assunto. Através de cinco argumentos diferentes o Espírito Santo ensina-nos que o uso do véu é parte integrante do padrão de igreja revelado no Novo Testamento. Quando uma igreja local está reunida você, irmã, precisa cobrir sua cabeça (física) porque o homem é seu cabeça (espiritual), porque você é a glória do homem, por causa dos anjos, por que o seu cabelo comprido é um véu natural dado por Deus, e porque isto faz parte do modelo de igreja estabelecido por Deus. E você, irmão, não pode cobrir sua cabeça (física) porque Cristo é seu cabeça (espiritual), porque você é a glória de Deus, por causa dos anjos, por causa da diferença natural entre homem e mulher, e porque isto faz parte do modelo de igreja estabelecido por Deus.

Cada igreja local deve zelar para que seus membros sejam obedientes neste assunto, insistindo não só na observância externa do símbolo, mas também nas correspondentes verdades espirituais. Quando uma igreja local entende e obedece a Deus neste ponto ela testemunha da sua submissão à autoridade de Cristo e do seu desejo de honrar somente a Deus; ela instrui os anjos, respeita as diferenças naturais e anda dentro do modelo bíblico. Desobedecer simboliza insubmissão a Cristo como Cabeça e desejo de glorificar o homem; é um exemplo negativo para os anjos, mostra ignorância das diferenças naturais entre os sexos, e é um desvio do modelo de igreja local apresentado por Deus.

Irmãos, o assunto é solene e profundo! Não tenho dúvida que muitas igrejas desobedecem neste ponto por ignorância, e não por rebeldia. Minha oração, porém, é que cada um que examinar estes versículos que estudamos juntos esteja pronto e disposto a obedecer nesta questão tão importante.

W. J. Watterson


Notas de Rodapé

Nota 1 - Tendo disto isto, porém, o fato é que há algumas irmãs que têm sinceras dúvidas quanto ao uso do véu quando a família se reúne para orar, ou numa visita a outra irmã doente, e situações semelhantes a estas. Nestes casos podemos aplicar o princípio exposto em Ro 14:23: “…tudo que não é de fé é pecado.” Não é necessário a irmã cobrir a cabeça numa situação destas, mas também não seria errado fazê-lo, e seria errado ela desobedecer a sua consciência. Portanto, em caso de dúvida, a irmã deve cobrir a cabeça. Mas seria errado exigir de uma irmã o uso do véu a não ser no contexto da igreja reunida.


Nota 2 - Estes versículos derrubam uma teoria que está se popularizando ultimamente, e que afirma que a submissão da mulher ao homem é consequência do pecado e da Queda no Jardim do éden. Aqui, porém, Deus volta para a Criação, antes da Queda, e afirma que as diferenças entre os sexos que existem hoje (e que a Igreja deve manter, mesmo no meio da mistura reinante no mundo hoje) são consequência da forma como Deus criou homem e mulher.


Nota 3 - Como é triste ver que as tendências unisex da sociedade imoral na qual vivemos já penetraram nas igrejas. Primeiro no vestuário, e agora também no comprimento do cabelo, homem e mulher confundem-se, em flagrante rebeldia à vontade de Deus. O texto em questão deixa claro que uma irmã com cabelo curto desagrada a Deus, assim como um irmão com cabelo comprido. Alguém talvez pergunta: “Qual então o tamanho ideal?” Na Sua sabedoria Deus não estabelece uma medida padrão (porque o crescimento do cabelo varia de mulher para mulher), mas deixou para nossa instrução um princípio. O cabelo comprido, para uma mulher, é uma glória; a conclusão mais segura, portanto, é que “quanto mais glória melhor”!


Nota 4 - Alguns querem insistir que a “natureza” mencionada nos vs. 14 e 15 (“não vos ensina a mesma natureza…”) é uma referência à cultura daqueles dias. Como procurei mostrar no item a.4, porém, isto não é verdade.

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